domingo, 17 de junho de 2012

talvez





nunca é tarde
para revisitar
as palavras
atiradas ao acaso.

talvez uma ou outra
possa ter
acendido uma vela sem mastro.





sábado, 16 de junho de 2012

tessitura





atento aos ínfimos
sinais de neblina
a toldarem-me a memória
com a serenidade
de quem não teme
a corda bamba
ou o precipício
ao virar da esquina
porque cada minuto
que passa
é uma conquista árdua
um remar contra a maré
uma lança no oásis.

cada minuto que
passa é uma linha
entrelaçada na
singularidade do texto.





domingo, 10 de junho de 2012

mãos mortas


Miguel Gayoso

estranho estas mãos
inertes decepadas
anacronicamente
vindimadas por
um curto-circuito
de lâminas.

elas jazem
na margem do rio
ansiando
por uma cheia de luas.



quinta-feira, 7 de junho de 2012

(ainda) frida


Frida Khalo


cada milímetro de 
músculo esticado
até ao limite
da fúria
pronto a rasgar
a pele de uma 
só braçada

cada dente rangendo
todo o esqueleto
da mandíbula
numa raiva
afásica
anos a fio
de emparedamento

cada esgar
enlouquecido
riscando o horizonte
da janela
como um risco de giz
ao invés do sentido
do relógio

despeja sobre a folha
amarelecida pelo vento
um silêncio bilioso
que me sufoca a garganta.