quinta-feira, 25 de abril de 2013

que farei com este abril?

 
 
39 anos para colocar na prateleira um cravo chamado abril com os sonhos que albergava de que restam alguns defensores com a memória tatuada de canções que resistem à onda de ignorância paulatinamente instalada nos corredores dos passos perdidos. 39 anos para enterrar no túnel da história minúscula uma metáfora que corria de boca em boca e ainda assim se mantinha inédita como se dita sempre pela vez primeira. 39 anos para expulsar os poetas da cidade e substituí-los minuciosamente por amanuenses bem comportados.
quantos anos mais para delapidar a gente que constrói as obras públicas para deixar os mortos por enterrar e os vivos abandonados ao esquecimento?


sábado, 20 de abril de 2013

em movimento


regressar a casa nunca
encerra nenhum círculo
da mesma forma que
nunca é o mesmo rio
que passa por esta margem

há um sabor inesperado na
impossibilidade de terminar uma tela
da mesma forma que
a primavera insiste em
regressar sempre diferente

assim Godot
apareça em Elsinore.

sábado, 6 de abril de 2013

outras cinco horas da tarde

 
Jaya Suberg
 
 

às cinco horas da tarde.
há sempre terríveis cinco horas da tarde insuspeitas a espreitar o caminho que julgamos ser nosso e afinal é apenas uma rasura no tecido do mar. por vezes são cavalos outras duendes que irrompem pela página de talha dourada em desequilíbrio barroco marcando as cenas da História com a indiferença altiva do perpétuo movimento da guerra e da fome sobre os ombros cavados de sangue. e assim a si assiste o homem ensimesmado na glória dos poderes a um abismo entre Bizâncio e Istambul que não sabe decifrar.
são cinco horas da tarde.

 


segunda-feira, 1 de abril de 2013

silêncio

 
Christiane Zschommler
 
 
de vez em quando o silêncio
aquele que traz uma rosa
de sangue ao peito e ergue
os ramos ao vento
 
de vez em quando o pão
em cima da mesa que cobre
de linho os raios de sol nascente
em oração de deuses caseiros
 
de vez em quando o mar
na borda da janela que acena
aos poetas pátrias sem nome
e descobre tormentas de amor
 
de vez em quando o silêncio
na raíz do coração