domingo, 17 de novembro de 2013

ao invés



apenas uma questão de língua e do ângulo dos raios solares sobre a mão que te afaga os seios enrugada amarelecida do tabaco cansada dos sonhos perdidos num qualquer rochedo.
apenas uma questão de horário do comboio que me leva para norte onde a aridez das casas serpenteia entre as guedelhas esbranquiçadas que me cobrem os olhos.
apenas uma questão de teclas empanadas do piano que abandonei ao fogo em desespero de fuga maior.
apenas uma questão de odor de livros húmidos sangrando palavras inúteis nas celas beneditinas.
apenas amantes ou nem sequer
apenas talvez para depois
fique sem efeito
foi um engano
apenas

domingo, 3 de novembro de 2013

lágrimas









implosão da frase
no meu coração:
ninguém vê os estilhaços
cravados nas veias
disfarço os soluços
em tatuagens
sobre os olhos
e a raiva afoga-se
nas esquinas do pó
engulo as facas de
dois gumes
disparo às cegas
sobre os meus pés
e rasgo o dorso
do amor
num caderno
de mercearia a cheirar
a bolor
quando faço silêncio
é porque seria
incredível
mostrar as chagas dos
sonhos que carrego
nos bolsos
descalço
caminho sobre o vulcão
barba grisalha
de esperar a lâmina
que há-de conjugá-la
sobre o poema
ao fim do terceiro dia.